03 nov 2021

Podcast #6 2021: Pesquisa tecnologias disruptivas e o café

Podcast Universidade do café Brasil -Uma nova forma de comunicar nossas pesquisas

Inovações na agricultura foi o tema da pesquisa desenvolvida em 2018 pela Universidade do Café/PENSA. Foram abordadas as inovações chamadas por nós de disruptivas, que são aquelas que causam sensíveis impactos e mudam a forma de produzir.

Na pesquisa citamos 5 direcionadores do futuro da cafeicultura. Por razões de espaço e tema, trataremos de 2 destes direcionadores  neste Podcast:

a) o vetor tecnológico das agritechs na agricultura 

b) conectividade no meio rural pós pandemia.

Começaremos com o Avanço das Agritechs na Agricultura

As agritechs representam uma categoria ampla de empresas cujo denominador comum é o oferecimento de novas tecnologias que impactam os modos tradicionais de produção.

Algumas tecnologias podem ser consideradas disruptivas. Utiliza-se o conceito de disruptivo em contraposição ao evolutivo, ou seja, aquelas tecnologias que provocam uma eventual ruptura com os padrões, modelos ou tecnologias já estabelecidas. Ou seja, fizemos uma reflexão sobre as influências que essas mudanças poderão causar na agricultura em geral e na cafeicultura em particular.

As nossas indagações são: como a introdução das inovações implicarão em transformações para o sistema agroindustrial do café? Qual o perfil dos produtores capazes de assimilar estas tecnologias? Como será o desafio da educação e da capacitação dos produtores frente a essas mudanças?

A pesquisa Radar Agtech 2020/21[1] mostrou o crescimento exponencial da quantidade de agritechs nos últimos anos. Foram identificadas 1.574 agtechs, o que representa quase 21 vezes o número identificado em 2016. Destas, 42% oferecem produtos ou serviços para o segmento dentro da porteira, sendo a principal categoria, sistemas de gestão de propriedade rural. Já o segmento pós-porteira concentra 46% das agtechs. Neste caso a principal categoria se refere a Alimentos inovadores e novas tendências alimentares.

Sobre os impactos esperados no Agronegócio do café a partir das tecnologias inovadoras, temos:

  • A geração de dados em grandes quantidades que poderão ser transformados em informação para a produção.
  • A otimização do uso de fertilizantes e de água a partir do conhecimento mais detalhado da propriedade.
  • Precisão na previsão de produção e produtividade por talhão.
  • Redução da dependência de bancos tradicionais após o início de serviços de análises financeiras e opções de crédito para o produtor oferecidos pelas start-ups.
  • Maior poder de decisão dos cafeicultores sobre suas estratégias de venda.
  • Ou seja, a melhoria da eficiência dos fatores de produção: terra, capital e trabalho como também da gestão financeira da empresa rural.

Também fora da porteira há avanços, pois alimentos inovadores e novas tendências alimentares podem impactar o mundo pós-pandemia com novas formas de se consumir, comprar e desfrutar o café trazendo pontos positivos para o Sistema como um todo.

Por exemplo, o conceito de mercearia on-line aproxima o produtor do consumidor final doméstico. Após a pandemia cresceu o conceito de barista doméstico, no qual consumidores adquirem equipamentos e preparam seus cafés de acordo com seu gosto. Esse fato se transmite, ao longo do sistema agroindustrial do café como um todo, impactando também os setores de produção e insumos.

Agora, falando sobre a conectividade no meio rural pós-pandemia

Uma pesquisa da Embrapa Informática, em parceria com o SEBRAE, intitulada “Agricultura Digital no Brasil. Tendências, desafios e oportunidades” mostra que dentre as tecnologias digitais utilizadas por produtores, em primeiro lugar estão aplicativos ou programas para obtenção ou divulgação de informações da propriedade e da produção; seguido por programas para a gestão da propriedade e em terceiro, serviços de GPS. 15,9% dos entrevistados não utilizam de nenhuma tecnologia digital no processo produtivo.

Nota-se, portanto, predominância do uso da internet para divulgação e obtenção de informações, enquanto que a tecnologia embarcada, sensores de campo, sistemas automatizados e robotizados ainda ficam com percentuais menores de uso.

Como principais dificuldades para acesso e uso das tecnologias estão:

– Problemas ou falta de conexão à internet;

-Falta de conhecimento para as tecnologias mais apropriadas;

-Falta de comprovação dos benefícios econômicos.

– O custo das tecnologias e dos prestadores de serviços.

Como Conclusões, temos que o desenvolvimento tecnológico tem ocorrido de modo rápido possibilitando inúmeros avanços, desde que os produtores conheçam as tecnologias e saibam o que é e como é oferecido. Há um potencial muito positivo para o apoio tanto ao produtor como aos demais agentes ao longo de todo o sistema agroindustrial, mas as principais funções para as quais a tecnologia é utilizada ainda estão longe de ter uma boa representatividade nos itens tecnológicos.

Para concluir referimo-nos à pesquisa da Universidade do Café Brasil/PENSA “A nova assistência Técnica agrícola”[2]  que explicita o porquê da necessidade de se manter e ampliar a assistência técnica e extensão rural, principalmente pública, para dar o suporte necessário aos produtores sejam eles grandes, médios ou familiares, principalmente nas questões da agricultura 4.0 e 5.0 sem desprezar os temas ainda básicos na agricultura.

A pesquisa “Tecnologias disruptivas e o café” foi publicada no Volume 9 dos Cadernos da Universidade do Café, disponível para download em: http://universidadedocafe.com/publicacoes/cadernos-universidade-do-cafe-vol-9-2019/


[1] FIGUEIREDO, Shalon Silva Souza; JARDIM, Francisco; SAKUDA, Luiz Ojima (Coods.) Relatório do Radar Agtech Brasil 2020/2021: Mapeamento das Startups do Setor Agro Brasileiro. Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens: Brasília, 2021.   Disponível em: www.radaragtech.com.br>. Acesso em 28 de Agosto de 2021

[2] Disponível em: http://universidadedocafe.com/publicacoes/cadernos-universidade-do-cafe-vol-10-2020/

30 jul 2021

PODCAST UDC #4 Mudança Climática, agricultura e o café: Identificação dos rumos da pesquisa.

Podcast Universidade do café Brasil -Uma nova forma de comunicar nossas pesquisas

Olá.  Apresentamos a pesquisa A NOVA ASSISTÊNCIA TÉCNICA AGRICOLA, Trabalho realizado em 2019.

Essa pesquisa foi motivada pelas transformações pelas quais passam os agronegócios, impactando diretamente a produção agropecuária. Essas transformações, de cunho tecnológico, têm relação com o avanço da tecnologia informacional (TI) no campo, induzida pelo aparecimento em todo o mundo de start-ups ligadas ao tema dos agronegócios.

Ficamos inquietos e nossas perguntas eram como avaliaríamos os diferentes sistemas de extensão e AT existentes considerando os padrões de evolução e as relações entre eles no sistema agroindustrial, especialmente com produtores rurais.

Destacamos então três objetivos principais:

  • * Provocar um debate a respeito da necessidade de sistemas públicos e privados de assistência técnica e extensão agrícola, identificando as instituições que balizam o funcionamento dos mercados de insumos, dadas as dimensões da agricultura brasileira.
  • * Verificar as demandas das várias agriculturas e produtores heterogêneos, que pedem sistemas tecnológicos específicos para suas necessidades.
  • * Recolocar o tema da assistência técnica agrícola no quadro da evolução de tecnologias disruptivas que alteram as relações de produção na agricultura.

Há uma corrida em direção às novas tecnologias e uma ânsia represada dos produtores em obtê-las. De outro lado, o sistema privado de grandes empresas de insumos acena aos produtores com a introdução dessas novas tecnologias procurando fidelizá-los aos seus produtos e oferecendo como contrapartida tecnologia informacional de controle e gestão de suas atividades.

O sistema público de extensão rural e as cooperativas têm procurado servir de tradutores e intérpretes da real valia dessas tecnologias, em paralelo a esse momento de euforia tecnológica.

Essa função de tutoria é fundamental para os produtores, principalmente aqueles com menor escala de produção, que podem recorrer a esses agentes para auxiliá-los em escolhas de novas tecnologias, e interpretar as tendências e mudanças.

Dada a carência de políticas públicas que cuidem do tema há uma necessidade premente de assistência técnica e extensão rural. Esse assunto ficou no limbo nos últimos dez anos em face da desatenção do Estado.

Chegou-se a supor que os produtores não necessitassem mais de ATER, pois supririam suas necessidades com entidades privadas e consultores autônomos.

A discrepância entre médias de produção entre regiões, categorias de produtores e tecnologias adotadas é outra das razões da necessidade de ATEr.

Há também a desigualdade em relação ao acesso a tecnologias. Um dado a ser destacado na pesquisa foi a constatação que, de acordo com o censo de 2017, apenas dez por cento das propriedades geram oitenta e seis por cento do valor total da produção agropecuária.

Com esse desequilíbrio de acesso à tecnologia e ao crédito, a transferência de tecnologia de agricultura de precisão ainda não é uma realidade para a maioria dos produtores.

A pesquisa identificou pouca familiaridade dos extensionistas oficiais e dos produtores sobre tecnologias que reduzem custos.

Conclui-se que todos os produtores necessitam de ATER, tanto o produtor tecnificado visando a nova agricultura 4.0 e 5.0, quanto os produtores de subsistência visando incorporar renda e melhorar as condições de vida das famílias.

3 Conclusões e desdobramentos atuais

Em função da heterogeneidade no setor agrícola Brasileiro, cada modalidade de produção, de produtor e de região necessita atenção especial.

As Universidades têm um potencial inexplorado nas funções de ATER e poderiam, por meio de programas piloto, baseados em modelos inovadores e adequados às tecnologias emergentes, atender uma gama variada de demandas.

Há um potencial para integração de modelos de ATER públicos e privados.

Necessitam-se de programas de investimento em tecnologias de comunicação digital com foco em ATER, para tornar mais eficiente e abrangente o atendimento de demandas tão diversificadas. Para isso o mapeamento de ações focalizando agricultura 4.0 e além seria importante.

As proposições da pesquisa foram:

1- Protocolos de ações orientativas para os serviços de ATER que considerassem a tipificação da agricultura local

2- Repensar a ATER: um modelo-piloto incorporando a ação das universidades, instituições de pesquisa, cooperativas e corporações privadas

3- Articulação das parcerias entre os diversos modelos de ATER. Pública-Órgãos e Universidades, Cooperativas, indústria de alimentos e insumos, consultores independentes.

4- Ações coletivas a partir de grupos existentes-Educampo, Ater coletiva, CREAs

5- Conectividade urgente no campo.

6- Investimentos em tecnologias de comunicação digital e ações com foco na agricultura 4.0

Após recentes consultas a especialistas em ATER, não houve grandes modificações entre 2019 e 2021 relativamente ao elenco de proposições acima.

Aparentemente o processo de descontinuação das Casas de Agricultura no Estado de São Paulo foi paralisado e as modificações do sistema de ATER público, tomará um outro rumo. Porém continua no rol das prioridades a reorganização do sistema por meio de eixos estruturantes e definição de prioridades.

Em Minas Gerais houve recentemente um concurso para contratação de 200 técnicos agrícolas para a Emater MG e há a previsão para novas contratações, o que enseja boas novas. Há uma parceria entre Emater-MG com a Embrapa para desenvolvimento de técnicas de agricultura de precisão voltadas para agricultura familiar.

O atendimento ao produtor começa a ser feito com novas ferramentas (para aqueles que estão na rede internet) em ambos os estados. É tempo de dedicar atenção à assistência técnica e extensão rural pelas várias instâncias de poder.

À guisa de conclusões sugerimos a preparação de modelos de ATER e aplicação de ações piloto em ambientes diversos para validação e definição do modelo mais adequado. O modelo antigo possui sim deficiências e carece de modernização, mas sua extinção (ou morte por inanição) é extremamente prejudicial aos agricultores que precisam de Assistência técnica e extensão rural pública de qualidade.

A pesquisa completa foi publicada no Volume 10 dos Cadernos da Universidade do Café está disponível para download na página: http://universidadedocafe.com/