01 set 2021

Podcast UDC #5 Pesquisa: Perfil do Produtor de Café do Brasil

Podcast Universidade do café Brasil – Uma nova forma de comunicar nossas pesquisas

Em 2008 a Universidade do Café Brasil realizou a pesquisa Perfil do Produtor de Café do Brasil. Um trabalho com caráter exploratório, seu objetivo era caracterizar o perfil do cafeicultor brasileiro, com os seguintes determinantes:

  • características do produtor e da produção de café;
  • desempenho do negócio;
  • percepção de risco do negócio;
  • influência da família no negócio e
  • tendências nas relações de comercialização.

Obteve-se uma amostra não-probabilística de 410 produtores entrevistados, indicados por empresas, cooperativas e associações de produtores.

A pesquisa foi realizada há 13 anos, mas é interessante observar as mudanças ocorridas e destacar pontos importantes identificados.

Resultados encontrados na pesquisa:

Relacionadas à produção:

Do total dos entrevistados, quase a totalidade deles era proprietário (87%), sendo 5% arrendatários e 6% parceiros.

Os dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2017 apresentam dados semelhantes quanto a  lavouras perenes:

81% dos produtores são proprietários e apenas 6% das propriedades são arrendadas.

-69% dos produtores não adotam colheita mecanizada. Uma pesquisa de 2018 do CafePoint/CNA identificou que mais de 73% dos entrevistados utilizavam métodos manuais e semimecanizados de colheita de café.

Ou seja, a mecanização na colheita ainda não é realidade na maior parte das regiões cafeeiras. Isto se deve, em parte, às condições topográficas, pois o café plantado em montanhas apresenta dificuldades para a mecanização

Quanto ao processamento pós-colheita, do volume total de café da amostra, observou-se que 74% era beneficiado pelo método natural, 18% descascado e 8% despolpado.

Uma pesquisa recente do SEBRAE  de 2021 identificou que:

  • 39% dos produtores entrevistados produzem cereja descascado,
  • 28% desmucilado e
  • 24% realizam algum processo induzido de fermentação.

Esta mesma pesquisa indicou que 44% da produção de 2019 foi de cafés especiais, o que revela uma tendência dos produtores em investirem mais na produção de cafés de qualidade.

Interessante observação na pesquisa de 2008 foi a de que

86% dos entrevistados não adotavam nenhuma forma de certificação.

A pesquisa do Sebrae de 2021, 23 anos depois, identificou que 50% dos entrevistados possuem algum tipo de certificação.

Quanto à gestão das propriedades

Em 78% dos casos os proprietários administram diretamente a propriedade e 14% contratam gerentes/administradores. Dados próximos aos do IBGE no censo de 2017.

A assertiva 1 da pesquisa de 2008 apresentada aos produtores, “O desempenho do negócio depende muito da dedicação do produtor”, foi a que teve maior índice de respostas em “concordo totalmente”.

Outras assertivas: “o negócio vai bem porque é o produtor quem negocia com os clientes” e “o negócio vai bem porque é o produtor quem negocia com os fornecedores” também apresentaram alto índice de concordância. Ou seja, os produtores percebem que a sua participação é fundamental no desempenho do agronegócio.

-Quanto a comercialização do café     

82% dos entrevistados optou pela venda à vista. 36% dos entrevistados pela venda de café com contrato de troca de insumos e foi adotado, entretanto, com representatividade de apenas 5% do volume total da amostra.

A pesquisa CafePoint/CNA de 2018 identificou que 64% dos respondentes não realizam a venda futura da produção. Ou seja, percebe-se ainda uma prevalência de comercialização no momento da colheita ou após algum tempo de armazenamento com posterior comercialização no mercado físico.

O boletim de pesquisas de Maio/21 da UdC Brasil revisitou a pesquisa sobre contratos de suprimento de cafés. Entrevistas apontaram que há tendência de aumento do volume de contratos a termo, no entanto, esta prática comercial varia de acordo com a região. No cerrado mineiro é uma prática comum. Já na região das Matas de Minas observa-se menos contratos a termo, estimando-se  que seja realizado por 15 a 20% dos produtores.

Considerando as oscilações de preço no mercado internacional de café, a comercialização futura é um mecanismo importante para gestão de risco e garantia da renda, mas necessita de um conhecimento detalhado  dos custos de produção.

Outro fato interessante, a pesquisa verificou uma concentração em poucos compradores no momento da comercialização.

Encontrou também relações comerciais   longevas com duração média de 13 anos, devida principalmente a: agilidade; amizade; armazenagem; assistência técnica; atendimento; bom relacionamento; certificação; troca por insumos; comodidade/facilidade; condições comerciais, entre outros.

Importante observar que, quanto maior o tempo de relacionamento, menor o peso da variável “preço”. A armazenagem e a assistência técnica oferecida ao produtor ganham importância quanto maior o tempo de relacionamento.

Estes resultados estão alinhados com o que diz a teoria. Nos contratos relacionais de longo prazo as partes se protegem das flutuações de preço, o que traz garantia de fornecimento para o comprador e sustentabilidade econômica para o cafeicultor.

Quando perguntados sobre o risco percebido, as variáveis de destaque foram: políticas públicas incorretas para o setor como: câmbio, tributação, financiamento da safra”, e também variáveis não controláveis como  “grande variação do preço do café” e “perda por fatores naturais (excesso de chuva, seca etc.)”.

Identificou-se que 84% dos produtores são pessoas físicas para as movimentações do negócio. Não identificamos outras pesquisas que possam contrastar ou mostrar tendências de mudança para esta variável.

Principais conclusões sobre os temas revisitados

Apesar das limitações de generalização de resultados, esta pesquisa reuniu as principais características do perfil do produtor de café no Brasil. Foram apontados comportamentos de decisão sobre o manejo de sua propriedade, sobre fontes de financiamento, sobre comercialização e até sobre a influência da família do produtor na continuidade do negócio.

4 pontos merecem destaque:

– Produtores procuram e prezam por relações de longo prazo, pois estas trazem segurança em relação às flutuações de preço e riscos de forma geral.

– A participação do próprio proprietário é vista como fundamental no desempenho do negócio.

– O produtor percebe que adquire um conhecimento próprio que precisa ser passado para seus herdeiros como forma de garantir a continuidade do negócio.

– Indicam que a exposição ao risco se concentra em variáveis não-controláveis

A pesquisa completa pode ser encontrada em www.universidadedocafe.com


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